Ao longo de todo o seu percurso, o problema crucial da sugestão nunca deixou de preocupar Freud. Onde e como, na psique, atuava aquela força misteriosa, tida por causa dos efeitos obtidos pela hipnose? Por que estes não eram duradouros? E não era paradoxal procurar eliminar os sintomas bastante reais da histeria persuadindo o paciente de que o que sentia era apenas fruto da sua imaginação? Com a perícia narrativa de um escritor de policiais, Fernando Aguiar nos conduz pelos meandros clínicos e teóricos que levaram Freud a resolver o enigma. Em síntese, isso se deu situando a sugestionabilidade em relação às balizas fundamentais da Psicanálise: os conceitos de inconsciente, sexualidade e transferência. A copiosa documentação analisada pelo autor evidencia a inanidade de uma acusação que certa filosofia da ciência (Adolf Grünbaum e outros) costuma fazer à Psicanálise: porque colhe o material para suas construções numa situação supostamente “maculada de modo irremediável pela sugestão transferencial”, ela não teria valor científico, e muito menos terapêutico. A remoção desse entulho epistemológico, comparável à limpeza das cavalariças de Áugias da mitologia grega, soma-se às demais qualidades do livro, que sem dúvida marcará época nos debates entre a nossa disciplina e suas áreas conexas. Renato Mezan
Fernando Aguiar
É graduado em Psicologia e mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutor em Filosofia (pós-doutorados em Filosofia e Psicologia) na Université Catholique de Louvain (UCL, Bélgica) e professor titular aposentado no Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É também autor de artigos sobre psicanálise e universidade; psicanálise na universidade; epistemologia, metodologia e história da psicanálise; interações da psicanálise; clínica psicanalítica de Freud.
TAMY
terça-feira, 19 de novembro de 2024
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